esporte 2806 – (crédito: kleber sales)
Por Marcos Paulo Lima — Enviado especial
Queda de mãos dadas para Série B em 2002, disputa pelo título em 2003, retomada das glórias e decolagem rumo ao confronto para o mundo inteiro ver: como Palmeiras e Botafogo renasceram juntos até a apoteose na casa do Philadelphia Eagles
Philadelphia (EUA) — Entre conosco no túnel do tempo. Estamos em 17 de novembro de 2002. Última rodada da primeira fase do Campeonato Brasileiro. Definição dos oito classificados para o mata-mata — ainda não era pontos corridos — e dos quatro rebaixados para a Série B. Botafogo e Palmeiras vivem dramas idênticos. O time alvinegro, contra o São Paulo, no Caio Martins, em Niterói (RJ). O alviverde enfrenta o Vitória, em Salvador. Ambos são derrotados e rebaixados de mãos dadas pela primeira vez para a segunda divisão na página mais triste de dois patrimônios históricos do futebol nacional.
Um ano depois, em 29 de novembro de 2003, Palmeiras e Botafogo celebravam, no velho Parque Antártica, o fim daquele castigo. A goleada por 4 x 1 na última rodada do quadrangular final deixou Sport e Brasiliense para trás. Encerrou a campanha do título palestrino e homologou o vice do Glorioso. Retornaram juntos para a elite.
Nem o torcedor mais otimista, as piadas futuristas dos Trapalhões, o cientista maluco Doutor Brown do filme De volta para o futuro, a quase sempre certeira série dos Simpsons ou algum desses profetas de plantão projetariam uma data como esta: 28 de junho de 2025.
Vinte e dois anos, sete meses e 11 dias depois de caírem juntos para a Série B, Palmeiras e Botafogo duelam hoje, às 13h (de Brasília), no Lincoln Financial Field, na Philadelphia, valendo vaga às quartas de final da Copa do Mundo de Clubes da Fifa.
O palco da partida é inspirador: a mansão do Philadelphia Eagles, atual campeão da NFL, o futebol da bola oval. Os dois times usaram a estrutura de franquias locais no desembarque na cidade para os últimos ensaios. Enquanto os times sentiam a atmosfera da casa dos atuais vencedores do Super Bowl nos corredores repletos de quadros com a trajetória dos Eagles, os torcedores dos dois times subiam e desciam os 72 Degraus de Rocky, em frente ao Museu de Arte da Philadelphia, emulando a cena icônica da série de Sylvester Stallone.
Entre tantos símbolos locais, a águia é a melhor metáfora para o clássico brasileiro em solo estadunidense. Está por toda parte na arena do Philadelphia Eagles. Uma delas, registrada em uma foto exposta em um quadro a caminho do vestiário, é simplesmente encantadora.
A águia tem características marcantes: visão aguçada, bicos fortes, garras afiadas e asas largas capazes de permitir voos poderosos. As reconstruções de Palmeiras e Botafogo têm esses predicados. Visionários, os presidentes Paulo Nobre, Maurício Galiotte e Leila Pereira enxergaram o futuro. O empresário estadunidense John Textor, também, ao comprar a Sociedade Anônima do Futebol (SAF) do Glorioso e transformá-lo em uma potência reconhecida no evento da Fifa como atual campeão do Brasileirão e da Libertadores.
Os voos das águias alviverde e alvinegra até a Philadelphia demandaram bicos fortes para suportar novas turbulências. O Palmeiras voltou a cair para a Série B em 2012. O Botafogo desabou novamente em 2014 e em 2020. Coincidentemente, ambos são bi na segundona.
Glórias
As garras afiadas contribuíram para abraçar com carinho a retomada das glórias. O Palmeiras saiu da fila com autoridade na Série A. São quatro títulos em nove anos. Quebrou o jejum na Libertadores. Tinha uma taça em 1999. Acrescentou duas: 2020 e 2021.
O Botafogo não conquistava o Brasileirão desde 1995. Era o único entre os 12 times mais tradicionais do país sem a Glória Eterna. A encomenda perfeita chegou em General Severiano no fim do ano passado. Inaugurou-se o tempo de Botafogo. Chegavam ao fim a espera de 29 anos pelas hegemonias nacional continental; e as piadas dos antis.
Palmeiras e Botafogo ganharam asas largas capazes de permitir voos poderosos. Por isso estão na Copa do Mundo de Clubes da Fifa. Sob o comando de Abel Ferreira, o Palestra empatou com o Porto na estreia, foi imponente diante do Al Ahly do Egito e resiliente no duelo com o Inter Miami. O Glorioso encerrou 13 anos de abstinência do futebol brasieliro em duelos com europeus ao derrotar o Paris Saint-Germain, atual campeão da Champions League, por 1 x 0 na segunda rodada. Lavou a alma nacional. Derrotou o Seattle Sounders por 2 x 1 e perdeu para o Atlético de Madrid na saideira da primeira fase, por 1 x 0.
Toda águia tem seu ninho. Uma delas terá de se despedir da aventura na Copa do Mundo de Clubes, planejar o retorno rumo ao Brasil e arquitetar a volta ao torneio em 2029. O caminho para isso é conhecido: ganhar a Libertadores novamente pelo menos uma vez de 2025 a 2028 ou se manter bem na fita no ranking da Conmebol.
Quem avançar permanecerá na Philadelphia à espera de Benfica ou Chelsea. Os europeus se enfrentam às 17h. Empate no tempo regulamentar nesta fase leva o jogo para a prorrogação com dois tempos de 15 minutos. Persistindo a igualdade, iremos aos pênaltis.
Fonte: Correio Braziliense