Anúncio de tarifa de 50% sobre produtos brasileiros provoca cancelamento de encomendas, suspensão de embarques e férias coletivas em frigoríficos. Governo federal cria comitê emergencial para mitigar os efeitos
A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de 50% sobre diversos produtos brasileiros causou impactos imediatos nas exportações do país. Em menos de 24 horas após o anúncio, embarques foram suspensos, contratos cancelados e empresas interromperam as atividades em setores como carne bovina, pescados, mel, madeira, móveis e pedras naturais.
A previsão é de que a medida entre em vigor em 1º de agosto. A nova tarifa gerou reação imediata no mercado norte-americano. Importadores cancelaram pedidos e adiaram negociações por receio da taxação, o que já afeta diretamente a economia de estados exportadores como Mato Grosso do Sul, Paraná, Piauí, Espírito Santo e Pernambuco.
Consequências em escala
No Mato Grosso do Sul, frigoríficos como JBS, Minerva, Naturafrig e Iguatemi interromperam os envios de carne aos Estados Unidos. O estado, também um dos maiores exportadores de tilápia, viu embarques paralisados por conta da instabilidade comercial. Segundo o Sindicato das Indústrias de Frios (Sindifrios-MS), os EUA absorvem 99,6% da tilápia produzida no estado.
No Piauí, a Central Casa Apis, responsável pela exportação de mel orgânico, relatou o cancelamento de grandes encomendas e o atraso na liberação de cinco contêineres com mais de 95 toneladas de produto, que só foram liberados após negociações urgentes.
O setor madeireiro também foi duramente atingido. No Paraná, a empresa BrasPine concedeu férias coletivas a 700 funcionários após a suspensão de embarques. Os Estados Unidos representam 42,4% do total exportado pelo setor. No Rio Grande do Sul, empresas de móveis enfrentam o mesmo cenário de incerteza e retração.
Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Pescados (Abipesca), ao menos 58 contêineres com pescado estão parados nos portos do Ceará, Pernambuco e Bahia. Os EUA são o principal destino dos pescados brasileiros, com participação de cerca de 70% nas exportações do setor.
No Espírito Santo, maior exportador de mármore e granito do Brasil, os embarques foram suspensos. O estado tem nos EUA seu maior comprador, responsável por 66% das vendas.
Além dos produtos já afetados, outros segmentos temem os desdobramentos da nova tarifa. A Embraer, por exemplo, calcula perdas de até R$ 20 bilhões até 2030 com a possível redução na venda de jatos comerciais e executivos — 45% e 70% de suas vendas, respectivamente, têm como destino os Estados Unidos.
Também estão em alerta os setores de suco de laranja, café, cana-de-açúcar e uvas, principalmente em estados como São Paulo e Pernambuco. O porto de Santos estima perdas de até R$ 145 milhões apenas no segmento cafeeiro, caso as tarifas sejam efetivamente aplicadas.
Reação do governo
O governo federal criou um comitê interministerial, liderado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, para monitorar os impactos e buscar alternativas comerciais. Entre as medidas em estudo estão a diversificação de mercados, abertura de diálogo com os EUA e eventual recurso à Organização Mundial do Comércio (OMC).
Em nota, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) alertou que o chamado “tarifaço de Trump” compromete não apenas as exportações, mas também o equilíbrio de cadeias produtivas nacionais e a geração de empregos.
Fonte: Correio Braziliense