O Boi Pavulagem foi acompanhado neste domingo pelo Boi de Rodas e sua comitiva inclusiva formada por dezenas de pessoas neurodivergentes e com deficiência física
Belém voltou a ser tomada pelas cores e sons do 3º Arrastão do Pavulagem, realizado na manhã deste domingo (29/06), em cortejo pelo centro da cidade. A concentração começou às 9h na Praça da República, com a tradicional Roda Cantada e a banda Arraial do Pavulagem animando os brincantes do Batalhão da Estrela. O quarto e último “Arrastão” de 2025 será realizado no próximo domingo, dia 6 de julho.
Entre as atrações que marcaram a edição deste domingo está a participação especial do Cordão de Pássaro Colibri, liderado pela Mestra Laurene Ataíde, vinda da Ilha de Outeiro. A apresentação celebrou a tradição dos Pássaros Juninos, manifestação cênica e musical que há mais de cinquenta anos resiste e encanta gerações com performances teatrais inspiradas na fauna e no folclore amazônico.
Diversidade e inclusão no terceiro domingo do Arraial do Pavulagem, em Belém (Foto: Carmem Helena | O Liberal)
O cortejo seguiu em direção à Praça Waldemar Henrique, desta vez acompanhado pelo Boi de Rodas e a comitiva inclusiva formada por dezenas de pessoas, entre elas crianças neurodivergentes e pessoas com deficiência física. A iniciativa, que integra o projeto da Associação Bem Viver, de Santa Luzia do Pará, propõe uma maneira adaptada de brincar com o boi.
“Ver essa convivência em grupo, em comunidade, com respeito e alegria, é o que move a gente. O Pavulagem é esse canal de conhecimento que se conecta com a cultura paraense e dá espaço para todas as pessoas, sejam elas com deficiência, idosos, crianças. Esse é o nosso palco coletivo”, afirmou Junior Soares, músico, compositor e um dos fundadores do Arraial do Pavulagem.
Energia contagiante
Ygor Felipe Oliveira, instrutor de dança, celebra 14 anos no Arraial do Pavulagem. Ele conta que a preparação começa em maio, com ensaios e oficinas que culminam nas apresentações dos domingos de junho. “É um mês intenso, mas também muito divertido. A cada domingo a gente mostra tudo o que aprendeu e tudo o que construiu juntos nas oficinas”, explicou.
Ele tem a dança como parte favorita da festividade. “Desde que entrei, nunca deixei de estar na dança. Para mim, a dança do Pavulagem tem algo único, porque é uma dança livre, de rua, em que a gente brinca, improvisa, sente a energia do povo”, descreveu.
“É uma energia real, que só quem está dentro sabe. A gente espera o ano todo por isso. E quando chega o momento, é uma sensação que a gente não sabe explicar, só sente”, complementou o instrutor.
A fotógrafa Priscila Olandir, de 42 anos, acompanhava a filha Lara, de sete, pela segunda vez no cortejo. Segundo ela, a experiência deste ano foi marcada por mais tranquilidade. “No ano retrasado, ela brincou mais, correu muito. Agora, está mais interessada na música”, contou.
Sobre os preparativos, Priscila relatou que optou por roupas leves e uma solução mais prática para a fantasia da filha. “Ela queria trazer o cavalinho de papelão que fizemos há quatro anos, mas sugeri usar um daqui mesmo, mais fácil”, explicou.
A pedagoga Lucelle Oliveira, 42 anos, participa do Arraial do Pavulagem desde 1989, levada pela mãe ainda criança. Com 36 anos de história no Pavulagem, ela conta que o domingo de festa começa muito antes da batida do tambor. “A preparação é tentar ficar calma, porque a ansiedade tem a cada arrastão, né? A gente tenta ficar calma, aí vai separando os acessórios todos, escolhe a saia, as bijuterias, pega instrumentos, vê um sapato bem confortável e se hidrata bastante para enfrentar esse calor”.
Para Lucelle, o Arraial significa muito além de uma manifestação cultural. “É família, e depois é alegria, amizade e esperança em um futuro melhor de preservação e paz”, declarou.
Fonte: O Liberal